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O resto é paisagem

Os irmãos Franco viveram em Paris, onde estudaram, que tiveram um

futuro muito promissor na sua época e deram passos significativos no início do

modernismo português. O Museu Henrique e Francisco Franco detém uma coleção

desse período, reunindo desenhos, gravuras, pinturas e esculturas de ambos os

artistas.

O Semeador de Francisco Franco é uma escultura naturalista executada em Paris em

1919 e constitui homenagem ao filantropo Augusto Vieira de Castro (1869-1926). Foi

trazida para o Funchal, depois de ser fundida a bronze na capital francesa em 1923.

Já andou por vários lugares da cidade e teve a sua aparição inaugural na Praça de

Tenerife, no dia 7 de dezembro de 1936, onde esteve durante 30 anos. Em 1966 foi

colocado na entrada da antiga Junta geral, atual sede do Governo Regional, até mudar de poiso, novamente, em 1989. O Semeador esteve no topo do grande relvado do

Parque de Santa Catarina durante cerca de 20 anos. Atualmente, pode ser

contemplado num pequeno arranjo paisagístico junto à Câmara Municipal do Funchal,

desenhado de propósito para o efeito, desde 2009.

Hoje, O Semeador completa cem anos e, independentemente do lugar onde esteve

plantado, faz parte da memória de todos nós.

O Semeador é uma figura robusta, séria e distante que olha o infinito. Está congelado num momento. O seu gesto solidificou no instante em que semeia, enquanto caminha.

Esta alegoria permite pensar o modo complexo e fascinante, através do qual nos

conectamos com o mundo que nos rodeia. A prática de caminhar é sempre uma

experiência estética, sensorial e perceptiva contínua e quando caminhamos, somos

constantemente seduzidos por texturas, cores, formas, sons e cheiros.

Esta exposição reúne uma série de trabalhos inéditos, colocando em diálogo uma

réplica em peluche d’O Semeador de Francisco Franco com algumas paisagens

deslocadas de Henrique Franco, substituídas por telas do mesmo pelo.

Esta continuidade entre corpo e paisagem, explorada a partir das telas e da escultura feitas do mesmo material permite-nos pensar no corpo e no território como duas entidades que se interconectam, e que são parte de um todo maior que está em constante interação e transformação mútua. Reconhecer a importância dessa relação pode ajudar-nos a viver de um modo mais consciente e harmonioso com o mundo. O resto é paisagem.




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