O resto é paisagem
- espacomar
- 8 de mai. de 2023
- 2 min de leitura
Os irmãos Franco viveram em Paris, onde estudaram, que tiveram um
futuro muito promissor na sua época e deram passos significativos no início do
modernismo português. O Museu Henrique e Francisco Franco detém uma coleção
desse período, reunindo desenhos, gravuras, pinturas e esculturas de ambos os
artistas.
O Semeador de Francisco Franco é uma escultura naturalista executada em Paris em
1919 e constitui homenagem ao filantropo Augusto Vieira de Castro (1869-1926). Foi
trazida para o Funchal, depois de ser fundida a bronze na capital francesa em 1923.
Já andou por vários lugares da cidade e teve a sua aparição inaugural na Praça de
Tenerife, no dia 7 de dezembro de 1936, onde esteve durante 30 anos. Em 1966 foi
colocado na entrada da antiga Junta geral, atual sede do Governo Regional, até mudar de poiso, novamente, em 1989. O Semeador esteve no topo do grande relvado do
Parque de Santa Catarina durante cerca de 20 anos. Atualmente, pode ser
contemplado num pequeno arranjo paisagístico junto à Câmara Municipal do Funchal,
desenhado de propósito para o efeito, desde 2009.
Hoje, O Semeador completa cem anos e, independentemente do lugar onde esteve
plantado, faz parte da memória de todos nós.
O Semeador é uma figura robusta, séria e distante que olha o infinito. Está congelado num momento. O seu gesto solidificou no instante em que semeia, enquanto caminha.
Esta alegoria permite pensar o modo complexo e fascinante, através do qual nos
conectamos com o mundo que nos rodeia. A prática de caminhar é sempre uma
experiência estética, sensorial e perceptiva contínua e quando caminhamos, somos
constantemente seduzidos por texturas, cores, formas, sons e cheiros.
Esta exposição reúne uma série de trabalhos inéditos, colocando em diálogo uma
réplica em peluche d’O Semeador de Francisco Franco com algumas paisagens
deslocadas de Henrique Franco, substituídas por telas do mesmo pelo.
Esta continuidade entre corpo e paisagem, explorada a partir das telas e da escultura feitas do mesmo material permite-nos pensar no corpo e no território como duas entidades que se interconectam, e que são parte de um todo maior que está em constante interação e transformação mútua. Reconhecer a importância dessa relação pode ajudar-nos a viver de um modo mais consciente e harmonioso com o mundo. O resto é paisagem.
Comentarios