AFETO
- Exposição de homenagem à artista Domingas Pita
- 6 de out. de 2014
- 2 min de leitura

Em 2012, a artista Domingas Pita participou no evento Dialogando com as Artes, subordinado ao tema “Desenho”, organizado pelo grupo 600 de Artes Visuais da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco.
Desta iniciativa, conservam-se imagens e dois desenhos de Domingas Pita, de entre o grupo de artistas participantes. Num dos desenhos, figura um «feto-de-metro», elemento comum em alguns quintais recônditos das casas madeirenses. Graficamente, o desenho a carvão então concebido, sugere-nos uma «espinha» - estrutura delicada e dorsal, que dá lugar a uma morfologia formal e orgânica, a culminar neste projeto vertebral que designamos de Afeto. Nada indiferentes à prematura partida e estranha ausência que Domingas Pita nos legou, queremos desafiar a ideia de perda. Projetar assim, num gesto afetuoso, a continuidade daquilo que ficou em nós sobre a sua arte. No nosso modo de ver, Domingas Pita fez das suas criações, um derrame sagrado da natureza, vertida sobre o papel ou sobre a tela.
Nos desenhos, sentimos um agigantar de fleuma vegetal, como um poema. Nas flores, nas árvores de fruto ou nas plantas mais comuns, a artista reclama uma intimidade sacra. Nos corpos, a elevação mistura-se com o vigor da flora que nomeia deus em arte performativa. É comum, no seu trabalho mais recente, o carvão imperar como técnica, debruçando-nos sobre a VERDADE. Aromas, cores, sons e vida, fazem parte de uma informação intuída, mas não visível para o espetador, contrariando as leis que preenchem a paisagem dos seus olhos. Domingas procurou o desenho e aí encontrou o sublime de forma secreta e concreta, (des)ocultando o regresso a um Jardim Primordial. Hoje, simbolicamente, a beleza deixou de se fazer pelas mãos da Domingas, e por isso urge esta necessidade de continuidade, possível através do Afeto. Pede-se a cada artista que reflita a memória da Arte, da Artista e da Pessoa, a culminar num projeto a que designamos de Afeto. Paulo Sérgio BEJu
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